A Bysteel, do grupo DST, é a quinta maior exportadora de Braga. Com a nova Bysteel FS, de revestimentos e fachadas, prevê-se que a faturação duplique em cinco anos.
Num dos edifícios do grupo DST, José Teixeira, o presidente, surge maquilhado, de capacete de engenheiro, ao centro de uma longa mesa ocupada por funcionários de 12 departamentos. Ele é o Messias. Não na vida real, mas na representação de "A Última Ceia«, fotografada por Ângela Berlinde, uma encomenda do grupo que investe na cultura e na arte não por requinte, mas por estratégia, mesmo que no início as pessoas achassem "um bocadinho esotérico", como diz o presidente. Entrar nos escritórios da Domingos da Silva Teixeira (DST), em Palmeira, Braga, é quase corno visitar uma exposição coletiva de pintura, fotografia,-escultura e design. Há também urna biblioteca da qual se requisitam livros pela intranet, os trabalhadores podem ser disco jockeys por 15 minutos na cantina, os gestores têm aulas de teatro para desenvolverem noções de oratória e, no horário de trabalho, 30 minutos por dia estão reservados ao pensamento. "Isso implica que tenhamos 500 horas de inovação por dia. Podem dizer que meia hora por dia custa muito dinheiro, mas eu pergunto: quanto custa a ignorância?" E assim que se cultiva o "ethnos da empresa", acredita José Teixeira, engenheiro civil de formação e mecenas de um prémio literário, de uma galeria de arte e cia Companhia de Teatro de Braga, entre outras frentes. Mas não terá sido exclusivamente a aposta na cultura e no conhecimento a salvar o grupo do colapso enquanto muitas construtoras se afundavam à sua volta durante a crise económica. O investimento em tecnologia e a diversificação nas áreas da engenharia e construção, ambiente, energia e telecomunicações fizeram-nos abarcar uma extensa cadeia de valor. Em 2016, urna das empresas do grupo, que três anos antes nem sequer espreitava a lista das 10 maiores exportadoras de Braga, figurou no quinto lugar do "riking", com 19,3 milhões de euros em volume de exportações; segundo os dados que a Informa D&B forneceu ao Negócios. Autonomizada a partir do departamento de construções metálicas no final de 2007, a Bysteel estava awatromi1116esdeeunosdovalordeexportações da sexagenária Casais - Engenharia e Construção, ainda que muito longe do seu volume de negócios (em 2016 faturou maisde24milhões de euros, quase um terço do saldo da construtora bracarense).
"Angola foi para sobreviver"
A empresa entrou no projeto e produção de estruturas metálicas de "alta complexidade" por Portugal, mas já tinha os olhos postos no exterior. Assentou o primeiro pé em Angola, onde construiu o "shopping" dos ricos e de Isabel dos Santos, na zona de Taiatona, em Luanda, e Sobrevoou o Nordeste do país numa "das maiores operações aéreas desde a descolonização", descreve o administrador, Rodrigo Araújo. «Alugámos sete aviões Boeing 74 para construir as aerogares do Dundo e de Saurimo. Foi um contrato de 18 milhões para cinco meses." Mas tiram as Torres Oceano, com uni valor de contrato de 15 milhões de dólares, o "primeiro grande momento da Bysteel no espaço internacional", conta O gestor, que assume: "Angola foi para sobreviver." Ainda antes que o dinheiro começasse a soprar menos do lado do país africano, vieram apertar a mão ao continente europeu e hoje França é o maior mercado da construtora. "A Bysteel é a empresa do momento" do sector naquele que deverá ser o maior centro financeiro da Europa, em La Défense, Paris, onde têm a cargo a torre Trinity (6,8 milhões de euros) e o edifício Pascal. (.) ritmo alavam( m a criação da Bysteel FS, a empresa de "vestidos de alta-costura que cobrem o corpo dos modelos em aço". deslumbra-se Rodrigo Araújo, que gosta de sonhar com nomes como Frank Gehry no currículo de colaborações. Em 2016, programavam "uma nova fábrica, um laboratório de ensaios e uma empresa dotadas dos diversos conhecimentos, do design à execução". No ano passado, ganharam os primeiros contratos e querem que a FS "participe tanto como a Bysteel Construções participa hoje para o volume de negócios do grupo". Em cinco anos "andará nos«) trabalhadores" e "as duas empresas, somadas, têm unia ambição que entra na casa dos 70 [milhões] a 80 milhões de euros".
CONTRATO
O valor do primeiro grande contrato da Bysteel no exterior, em Angola, foi de 15 milhões de dólares.
80,28% EXPORTAÇOES
O peso das exportações no volume de negócios foi superior a 80%.
PROJECÇÃO
A Bysteel e a Bysteel FS pretendem facturar juntas 80 milhões daqui a cinco anos.
FACTURAÇÃO
O volume de negócios da construtora de estruturas metálicas, em 2016, foi de 24 milhões de euros.
PERGUNTAS A RODRIGO ARAÚJO Administrador da Bysteel
"França é um dos grandes estaleiros da Europa"
Depois de terem sido a primeira empresa do grupo a pousar o pé em África, a conquista do mercado francês foi morosa. Primeiro a Bysteel teve de exportar e só depois conseguiu assentar metal em terreno gaulês. Hoje assinam contratos de 15 milhões de euros. O Reino Unido é outro dos principais alvos.
Angola está a mudar e as relações com o país têm esfriado. Em que medida isso afecta a Bysteel?
Houve um momento em que tínhamos dois mercados: o português, que acabou por se tornar muito pequenino; e um mercado de risco, que era o angolano. Há um risco grande associado à desvalorização da moeda, à dificuldade na expatriação de capitais e à própria inexistência de negócio. Mas nós cedo percebemos que não podíamos ter só risco nos emergentes e que devíamos dispersá-lo. Em Portugal, preparámo-nos com o crescimento da nossa divisão de projecto e trouxemos mais conhecimento de engenharia para a Bysteel. Continuamos a ter os países compradores do hemisfério Sul, mas viemos para países prescritores da Europa, como a França, em 2012, o Reino Unido, em 2014, e a Holanda agora em 2018. Em França, há o projecto de duplicação da linha de metro, e também querem fazer uma Expo... Portanto, França é hoje um dos grandes estaleiros da Europa.
É o vosso principal mercado?
Sim, com clientes importantes como a Bouygues, a Vinci, a Eiffage. Mas não foi uni processo muito fácil. A admissão ao mercado francês faz-se em duas etapas: uma em que vamos à exportação - a Bysteel exportou obras para empresas francesas na Jamaica, em Gibraltar ou na Nigéria, já que o mercado não nos permitia construir - e outra de projectos. A primeira obra que fizemos em França foi de 250 mil euros. Hoje temos contratos na casa dos 15 milhões. Poderiam estar a crescer mais não fosse a escassez de mão-de-obra? Na Bysteel FS [nova empresa de fachadas e revestimentos], se tivesse 50 quadros com o perfil que procuro, num muito curto espaço de tempo, faria essas admissões. Há falta de pessoas desde tecnólogos a operacionais. Portugal perdeu muita gente. Mas está a acontecer uma coisa interessante: começamos a receber as engenharias que há uns anos decidiram partir. Mas não vêm no mesmo número. Não, não vêm... Por isso também estamos a contratar nos países em que operamos.